Na madrugada do dia 9 de Dezembro, chegara ao Aeroporto Internacional de Fortaleza ou Aeroporto Pinto Martins, onde fui recepcionado pelo próprio presidente da FIB-CE, Carlos Ribeiro. Este mesmo companheiro que no início da presente década me introduzira nas fileiras do Sigma, lembro-me bem como se fosse hoje. Em uma terça-feira de janeiro à tarde, em plena correria do Brás, aparece para mim um contato do Ceará. Questionei no momento o que seria aquela mensagem, até perceber que era a resposta à minha inscrição no Cadastro Nacional. Depois de uma breve conversa, eu finalmente percebi que havia sido efetivado e estava conversando com um autêntico camisa-verde! E, consequentemente, sendo encaminhado para me tornar um. Confesso a todos que eu não havia lido integralmente o Manifesto de Outubro, mas havia revirado cada parte da seção de perguntas e respostas. Na época, mal sabia o que era a TFP (Tradição, Família e Propriedade), estranhei aquilo em uma das perguntas, pois, não era (e não sou) católico e não tinha afinidade com alguns pensamentos e grupos políticos. Para ser sincero, conhecia o Integralismo como “um inimigo a mais” em minhas épocas de simpatia ao Leninismo. Larguei de simpatizar com este ideal quando chegou no campo espiritual: escolher o ateísmo ou escolher a Cristo. Obviamente, pelo sobrenatural ter tido grande protagonismo na minha existência e pelo meu berço na Igreja, nunca pensei em deixar as verdades de Cristo, mesmo tendo algumas visões (que outrora eu achava que eram apenas visões sociais e econômicas) do socialismo como corretas e justas, como a questão social e a antipatia ao Capitalismo e seus frutos. Depois de poucos anos mudando minhas concepções sociais e politicas, alinhando elas com as verdades de Cristo, havia reencontrado o Integralismo, não mais como inimigo, mas como um ideal nobre e autenticamente brasileiro. Do meu grupo de amigos, estes que tiveram simpatia ao Fascismo e sua brutalidade, enquanto eu, decidi seguir a doutrina pátria do Sigma.
Fiquei muito feliz ao ver o companheiro. O mesmo estava com uma roupa atípica para o ambiente, uma farda homenageando a FEB, nos cumprimentamos ali mesmo com um vigoroso “Anauê”, e antes de sair do aeroporto, fomos à uma livraria que há dentro dele. O companheiro ficou impressionado com o bom (até muito barato) preço do exemplar do “Livro Negro do Comunismo”. Conversamos um pouco até chegar onde ele havia conversado com um taxista que prometeu esperar-nos. Ao chegarmos ao local indicado, olho para o companheiro e digo: “O Táxi não era aqui ?”. “Sim, claro” respondeu ele. Após um certo tempo, pergunto: “Cadê o bendito táxi?!”. Olhando para os lados, isto no último reduto de veículos da pista, decidimos voltar e pegar outro táxi.
Chegamos em Caucaria e rachamos o valor da corrida, adentrando a humilde casa da companheira Margarida, mãe de Carlos. Estrela, a fiel cadela caramelo da residência, estava a nos aguardar assim como o grandioso companheiro Jonas de Mesquita, este que se encontrava dormindo na rede, infelizmente muito próxima da porta, então tivemos que passar por debaixo dele. Tirando meu calçado e preparando o canto de minha mala, o companheiro Carlos me apresentou os aposentos e os cômodos. O companheiro e eu nos assentamos um pouco na sala e conversamos; falamos sobre o nosso período de Ensino Médio (já que terminamos quase ao mesmo tempo), sobre o livro que está em prelo, um livro sobre a milícia integralista e os Integralistas na Segunda Guerra. Por fim, fomos dormir para o dia que nos aguardava. Dormi no sofá (sem divisória para a alegria de minha coluna) que estava próximo a rede que dormia o companheiro. Agradecia a Deus por aquela madrugada e dormi. Com um certo receio da rede cair e o companheiro cair, e cair justamente em cima de mim. Sim, mas não pensei muito nisso por causa do sono.
Acordei, olhando em direção a porta, vi companheiros desfrutando de um energético café da manhã, o primeiro que vejo é justamente Jonas, que estava a experimentar um clássico pão com ovo e uma limonada muito doce. No clarear do dia percebi o ambiente com mais clareza, as paredes, os móveis, as várias imagens de Nossa Senhora, a placa comemorativa dos Integralistas pernambucanos da I° Conferência Regional Integralista no Nordeste, a mesa ocupada com livros, esboços e as bandeiras nacionais e do sigma entre outros artigos que seriam usados no evento que ocorrera naquele mesmo dia. Esfregando os olhos, saindo do cômodo soterrado de livros e roupas, juntou-se a nós o companheiro potiguar Fred. Após o café, conversei com Margarida, conversas que ultrapassavam o tempo do relógio. Fala das impressões sobre o seu único filho, sobre seu esposo, contava histórias passadas de geração em geração, como exemplo, o ancestral do companheiro, este que tinha a voz tão alta e tão grave que em um ataque de nervos estourou a cristaleira de sua casa com um potente grito. Ri demais com situação de eras anteriores.
Acompanhei Carlos para arrumar alguns outros preparativos para o evento, como os panfletos dos Integralistas na Segunda Guerra. Fui junto a ele ao local, conversamos sobre algumas coisas a respeito dos assuntos pendentes da madrugada e separados pela conversa que tive com sua mãe, fomos falando sobre o cotidiano, seja o da grande cidade ou das pequenas vilas e zonas rurais, pois, não importa para onde irmos, a maldita acultura nos acompanha, como exemplo de uma música pop de algum artista fuleiro ser ouvida mesmo estando nos cafundós do Judas (se comparado aos centros urbanos a qual estou familiarizado).
Esperando o resto de algumas impressões serem concluídas, o companheiro me relatou sobre um veterano de Guerra que ele havia conhecido, este que durante a época da Guerra, falsificou seus documentos para mentir sua idade e se alistar no exército e batalhar na Europa. Este homem cumprira o treinamento no Brasil, nos acampamentos aliados do sul da Itália, mas foi sob a mortífera chuva dos morteiros e metralhadoras inimigas que teve seu “batismo de fogo” nas preliminares das batalhas de Monte Castello. Nos dias posteriores, o mesmo testemunhou a brutalidade da guerra, abatendo tanto alemães treinados até crianças e jovens (como ele), que foram arrastadas para aquele conflito. E o companheiro relatava as estratégias ousadas usadas por nossos patrícios, as armas que ambos os lados utilizavam, da defesa antiaérea dos “flaks” que passou a ser uma ótima prescrição contra blindados, assim como o efeito moral do morteiro.
Voltando com os panfletos em mãos, era os preparativos para o almoço e finalmente a partida para o local do evento.
Em meio aos preparativos chegara até nós o companheiro baiano, Rodrigo, este que veio em boa hora para ajudar a buscar os preparativos para o almoço. Desta vez, fomos todos juntos ao ponto de conveniência, e vi o que para mim seria uma exótica bebida, o refrigerante de caju São Geraldo. Pegamos isto, água e algumas outras provisões para o almoço. Voltando para casa, o almoço fora preparado pelo mestre-cuca, companheiro Francisco, pai de Carlos. Desfrutamos uma deliciosa refeição, tendo cuscuz, feijão preto, um macarrão vitaminado acompanhados da mistura de frango cozido e carne assada. Comemos e conversamos. Os companheiros chegaram a perguntar por que eu arrastava tanto o “R”. Ora, eu, paulista, sempre convivi em meio de outros paulistanos (alguns nordestinos e bolivianos também). Nunca tinha reparado em meu próprio sotaque. Pelo que me lembro, o único que arrastava tanto o “R” era meu pai, pois, ele era um verdadeiro caipira vindo do interior de Campinas e veio para a capital paulista por motivos de moradia e trabalho.
Chegara o momento de partir para a conferência. Todos começamos a nos aprontar, o companheiro Rodrigues vestiu a sua camisa-verde para compor a Guarda de Honra. Por algum motivo, os uniformes dos outros companheiro não estavam por lá. Três uniformes devem ter ficado na casa do companheiro Francisco que fica em uma extremidade muito distante de Fortaleza, e devido ao tempo e recursos, não era viável pegá-los. Sendo assim, foi decidido, de último momento, apenas a Guarda de Honra utilizaria a camisa-verde.
À esquerda, o companheiro Rodrigues Marques, envergando a camisa-verde, representante da Guarda de Honra, ao lado do Presidente da FIB-CE, Carlos Ribeiro. Ao centro, o Presidente da FIB potiguar, Jonas de Mesquita. À direita, os companheiros Fred e Matheus Lima, colunista e redator da Nova Acção, com seu crachá de identificação.
A caminho do local, fomos de Uber. Fui junto ao companheiro Rodrigo, chegando ao mesmo tempo dos outros companheiros. Chegando no local, fui conversar com as pessoas no evento. Falei com um rapaz interessado no Integralismo. este acompanhado de sua tia (que percebi não ser muito simpática com o nosso ideal), a família do Dr. Daniel Arthur Branco, a dupla de jornalistas e seu convidado tradicionalista e outros companheiros cearenses, dentre eles a noiva do companheiro Carlos. Tivemos de adiar o início do evento, em aguardo de alguns companheiros que demoraram para chegar. Fui mestre de cerimônias e também técnico na parte audiovisual, para a transmissão do vídeo produzido pela equipe da Nova Acção, o Integralismo: Ontem e Hoje, assim como tocar o Hino Nacional.
Dando por encerrada a conferência, distribuí o material doutrinário Integralista, como o panfleto “Integralistas na Segunda Guerra”. Carlos autografou os meus exemplares de “Exército Brasileiro, Baluarte da Nacionalidade” e de “Aos Meus Companheiros”. A grafia de sua assinatura é praticamente das letras de cartas antigas. O jornalista estava sendo bem persistente com algumas perguntas para Jonas e Aquino, mas tivemos que apressar a saída porque ficamos mais do que deveríamos no salão que foi alugado. Saindo, fiz uma pequena breve anedota: “Imagina sairmos daqui e… olha só, a Polícia Federal! Ha, quanto tempo, haha…”, falei isso porque o fotógrafo, funcionário do lugar, não parava de tirar fotos justamente de Rodrigo, o único de camisa-verde, que relatou a mim seu incômodo e garantiu que iria ter “uma conversa com ele” se o mesmo ficasse o estranhando por muito tempo, o que no calor do momento disse que era apenas o trabalho dele e poderia servir para montar um painel de retrospectiva do lugar. Ao irmos embora, na entrada, havia um quadro negro em que os companheiro cearenses, os quais não me recordo muito bem se foram o fotógrafo do núcleo ou o Aquino, desenharam com maestria Gustavo Barroso e o Chefe apenas com um giz de cera. Eu, outros companheiros e convidados ficamos impressionados.
Panfleto anunciando o futuro livro.
Alguns companheiros decidiram tomar rumo de volta para casa, outros como o companheiro Veras aproveitaram a viagem e foram visitar algum parente próximo. A pequena tropa composta pelos companheiros Jonas, Rodrigo, Fred, Aquino, Margarida, Carlos Ribeiro, sua noiva que nos acompanharam assim como a dupla de jornalistas e o tradicionalista. Escutando o conselho de Eva, o companheiro Carlos nos induziu a ir em um lugar, obviamente caro e que possuía uma fila contada do lado de fora, todos sabiam que era para ter o momento romântico que sua noiva pretendia. Foi interrompido quando a pequena tropa se direcionou a outro local, este que era um self-service. Os companheiros potiguares e o baiano foram pegar comida em outro lugar, mas voltaram logo em seguida.
Descobri naquele lugar o motivo do companheiro Carlos ser magro, enquanto todos já estavam no segundo ou último prato, ele ainda estava na base da coxa de frango de seu primeiro prato sem nem ter tocado no restante. Segundo ele, algo estava incomodando-o profundamente ou estava prestes a ficar um pouco enfermo por alguma razão (o que de fato se tornou verdade, mais tarde), outro fato intrigante é de que os jornalistas também eram católicos tradicionalistas, o que um deles ironizou um fato relacionado a aparência, por um deles possuir um “dread”. Quando alguém perguntava se mesmo teria um baseado, ele já deixava claro: “sou cristão, sou católico”, o que causava certa graça em todos os ambientes. O motivo de seu convite à conferência foi que, em todos os eventos e comícios políticos que Carlos e os companheiros iam, eles estavam por lá. Segundo eles, conseguiram até arrastar uma oração do Pai Nosso e uma Ave Maria durante o final de um desses comícios de neoconservadores.
Tardando o horário e indo embora, novamente com o fechamento do local ficamos próximos ao cruzamento movimentado, para pedirmos algum Uber, o que no final se mostrou uma tarefa fatigante, pois, após o companheiro Carlos e seus acompanhantes pegarem o Uber, esquecemos que cabia mais uma pessoa no mesmo carro. Após sua partida, o trio tradicionalista nos oferece carona aos que restaram, o problema morava justamente em deixar pelo menos um para trás, o que era inviável, dado ao horário, e ainda mais que Carlos foi no Uber que Jonas pediu (pois seu celular havia descarregado) fazendo assim ter um celular a menos para termos a tentativa de pedir carona. Cancelamento vai, cancelamento vem, próximos da meia noite, um abençoado aceita, e partimos de volta à residência de Margarida.
Chegando lá, já cansados, somos recepcionados pelo churrasco que Francisco havia planejado. Entrei e comecei a arrumar minhas malas, pois, infelizmente partiria já naquela madrugada. Encontro o Carlos, abatido por alguns planos não terem fluído como planejado. Consolei o companheiro, e como em uma fila de espera, cada um na casa foi ter uma conversa com ele, um por vez, falando que esta conferência não foi ruim, em verdade, havia sido boa na media de nossas expectativas. Neste momento, fui pego novamente nas conversas com Margarida, desta vez com um tema um pouco mais sensível. Isto é, a questão religiosa. Justamente o único Evangélico numa casa Católica, questionado sobre minha visão sobre Maria, se referindo à ela como a “Nossa Santíssima Mãe”. Dei meu parecer sobre a assunto com medo que me meu espírito iconoclasta não arruinasse o momento. E então começou a história, e vi que eu e Carlos tínhamos mais em comum do que a camisa-verde e o sobrenome Lima. Carlos também foi fruto primogênito de uma promessa de uma mãe de colo infértil, de uma desesperança médica. No caso, ela teve uma gravidez de risco e o médico recomendou um aborto, não muito diferente de mim, em que minha mãe temia pela minha vida, já que eu nasci durante a moda da troca, ou melhor, do sequestro de bebês. Ela e minha mãe possuem um testemunho de que o sobrenatural interferiu nos ditames do natural, para vir a tona, um milagre.
Eu, Matheus e Carlos, somos um milagre, assim como muitos outros que talvez tenham testemunhos parecidos.
Depois desta conversa, apressei-me em tomar banho para ir ao Aeroporto, enquanto me vestia ocorreu uma situação um pouco estranha, para não dizer que se eu abrisse a porta naquele momento eu iria presenciar algum horror inimaginável por de trás da porta. Ouvi uma voz feminina e medonha que suplicava pela sua mãe e esta voz, repentinamente, acabou-se, tornando-se um miado. Após me trocar por completo, preparar minha bolsa e sair para o quintal, onde estava sendo o churrasco, em meio a conversação digo ao Carlo o ocorrido, ele disse que isso era uma coisa relativamente normal e me ocorrera dele ter visto claramente seu avô que jazia morto andando pela sala e conversando com ele, seu pai não acalmando a situação fala sobre o lugar ser naturalmente inclinado ao oculto por causa de rituais feitos em cemitérios antigos, este que se localizam aonde seria aquele bairro, e brincou dizendo “se você cavar aqui, você acha uns três”.
No aguardo de meu Uber, ouço o Jonas falar de sua atuação em sua cidade natal, sua aproximação com certas figuras políticas, e tinha a pachorra de dizer que não tem nenhum interesse político nisto, no que questionei ele: “Você diz isso tudo e depois vem me falar que não tem nenhum interesse político?” Enquanto conversávamos, a história, o Fred ficava só na boca da grelha, aproveitando assim mais de um quilo de carne, quando nos demos conta disso. E, assim, após esta noite, em uma despedida com vigorosos “Anauês”, parto em meu Uber que dirigia tão bem quanto eu fazendo contas de álgebra avançada. Resumindo, de forma desastrosa (e quase criminosa).
Assim termina a minha estadia na Terra do Sol.
Claro, perdi meu voo e tive que esperar por outro, mas, tirando isso, foi tudo perfeito e edificante.
Conclusão: em uma visita, de Integralista para Integralista, construímos nosso companheirismo, engrandecendo um ao outro com experiências culturais e pessoais. Espero visitá-los novamente e também espero recebe-lo de forma mais hospitaleira do que fui recebi por eles.
Da Terra da Garoa à Terra do Sol! Anauê!
Autor: Matheus Lima.